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quinta-feira, 6 de abril de 2017

A AUTORIDADE DO PSICOPATA


O psicopata tem uma imagem de si mesmo inflada, grandiosa, apresenta extrema confiança e clareza em suas convicções, porque não sente medo nem dúvida, e essa autoconfiança e certeza eleva o status do psicopata aos olhos dos outros, conferindo-lhe autoridade.
Ele nunca está errado, são os outros.
Para cada situação em que poderia haver dúvida, como a amiga de sua vítima tentando alertá-la de que algo está errado, ele tem uma convicta explicação: “Essa sua amiga tem inveja de você. Não acredite nela.” “Sua mãe não gosta de mim, por isso ela quer arruinar o nosso casamento.” “Seu pai não sabe o que está de fato acontecendo. Ele já está velho.” “Não dê atenção ao que seu irmão está dizendo, ele tem problemas com a esposa dele.” “Eu sempre sou fiel às minhas mulheres. Você está vendo coisas que não existem. Como você é carente!”
Como costumamos confiar no que as pessoas próximas a nós nos dizem, o psicopata precisa retirar essas referências, para que a única referência seja ele mesmo. Assim é que ele tem o controle da visão de mundo da vítima. Isso é feito com tanta sutileza e disfarce, que a vítima não percebe até que esteja totalmente enredada na teia.
Com essas táticas, o psicopata programou o cérebro da vítima para vincular o comportamento dele a uma imagem bondosa, honesta e confiável, porém falsa, que ele apresentou no início, para conquistar sua vítima. Quando o comportamento e a imagem não batem, o problema não é ele e sim todos os outros, inclusive a vítima, que deve estar vendo coisas. Essa é uma tática poderosa para ir minando a confiança em sua capacidade de percepção, que aos poucos vai enlouquecendo a vítima.
A programação é reforçada repetidamente, o que cria como se fossem sulcos no cérebro da vítima pelos quais a informação flui e que são muito difíceis de modificar. É por isso que é tão difícil sair de um relacionamento com esse tipo de criatura sem graves danos à nossa psique.
O comportamento que a vítima vê combina com alguém desonesto, mentiroso, manipulador, explorador, traidor e cruel. Como conciliar as duas imagens?
A isso se soma ainda a opinião dos outros que só veem a grandiosa imagem do psicopata, sem ao menos desconfiarem de sua falsidade. E é a vítima que é julgada louca, problemática, ciumenta, carente e mentirosa. Seus sentimentos são invalidados pelos outros. Isso leva a uma espécie de paralisia.
Como sair disso?
Sem ajuda de um bom terapeuta, de um verdadeiro amigo, é extremamente difícil, porque consiste em reprogramar o cérebro, revalidar percepções e sentimentos, desfazendo uma teia muito bem tecida pelo abusador.
O primeiro passo é começar a acreditar em si mesma, repetir para si mesma: “Eu não estou louca. Eu não fiz nada de errado.”
Aos poucos, sua visão vai ficando mais clara. Ao entender como essas criaturas funcionam e quais são suas táticas, você vai percebendo a terrível crueldade e falta de humanidade delas, e você se torna capaz de reprogramar seu cérebro, refazer sua vida de forma nunca antes imaginada.
Um incrível futuro aguarda você. Acredite.

GRANDIOSIDADE AUTO PROCLAMADA – A TÁTICA DOS ABUSADORES


“Olha que grande sujeito eu sou.” Uma tática que os abusadores empregam – bem debaixo do nariz de todos

(Nota do Editor: esta postagem foi contribuição de um leitor de Lovefraud cujo pseudônimo é D2)

Tradução por Júlia Bárány (original em: http://www.lovefraud.com/2017/03/03/see-what-a-great-guy-i-am/)

O café se enchia rapidamente com pessoas que agarravam seus cafezinhos antes de se dirigir para o escritório. Eu estava sentada com o meu livro e o meu capuchino, passando os olhos pelo ambiente de vez em quando para aliviar meus olhos e depois refocá-los na página. Quando ergui os olhos de novo, percebi um dos barristas conversando atentamente com um homem de meia idade encostado numa parede de cortiça. Eu não conseguia ouvi-los por cima do burburinho dos outros fregueses, mas eles pareciam estar discutindo algo pregado na cortiça.
Nada de interessante acontecendo aqui… exceto algo nesse homem chamou minha atenção, algo de sua linguagem corporal. Ele estava um tanto “aceso” demais, tentando demais ser envolvente e agradável. Parecia uma daquelas cenas de cinema em que o marido encurrala sua esposa na sala quando ela volta cedo para casa e mantém uma conversa em voz alta e exageradamente jovial com ela enquanto a garota com quem ele a estava traindo foge pela janela do quarto por trás dos dois.
E havia mais alguma coisa sobre ele, alguma vibração esquisita emanando dele, que me dava arrepios. Mas a conversa acabou, ele entrou na fila do café e eu voltei ao meu livro.
“Pare com isso! Não tente seus truques comigo!” ouvi segundos depois. Erguendo os olhos, vi uma jovem de traje profissional se virando na fila e olhando chocada para a pessoa atrás dela. Era ele.
“Não tente me aborrecer com os seus truques!” repetiu ele na cara dela, sem gritar, mas alto o bastante para que muitos na sala o ouvissem claramente. Os dois haviam se virado de forma que eu os via de perfil de onde eu estava sentada, e vi a expressão dele. Ele estava se divertindo.
A mulher saiu da fila e achou o mesmo barrista com quem o homem havia conversado antes, levando o barrista até uma mesa a poucos metros da minha. Agitada e aos prantos, ela descreveu o ataque verbal e apontou para o agressor que estava na fila, que parecia nem perceber a cena atrás dele.
“Mas eu acabei de conversar com ele há alguns minutos”, disse o barrista, com um tom um tanto condescendente. “Ele me pareceu um sujeito bom. Vou ficar de olho, se você quiser.”
“Estou arrasada, e nem cheguei ao escritório ainda!” a mulher balbuciou entre soluços, depois se aprumou e saiu do edifício.
Este incidente bizarro pode parecer nada mais que uma versão adulta do “Vamos encrencar VOCÊ com o professor”, mas a falha de reconhecer esta tática em outros contextos é potencialmente letal.
Eis outro exemplo, esse um tanto mais pessoal:
Durante meus anos de universidade, na época em que os telefones celulares eram do tamanho de tijolos e poucos os possuíam, consegui um emprego num restaurante 24 horas. Fui entrevistada à noite depois de sair de outro serviço temporário, e fui contratada na hora. Quando finalmente os formulários e as orientações foram completados e eu podia ir embora, já eram 3 horas da manhã.
Um problema: eu não tinha carro, não tinha mais ônibus, não tinha carona e como eu estava sem um tostão, não podia pagar um táxi. Eu precisava chegar em casa, então decidi que não tinha outra opção a não ser caminhar alguns quilômetros para chegar lá.
Depois de passar por um shopping em frente ao restaurante, continuei por outra rua principal que levava para casa. Caminhando me dei conta de um jovem desalinhado de bicicleta que parecia me seguir. Continuei, apertando o passo. Para o meu alívio, vislumbrei um guarda à frente, provavelmente voltando de seu turno. Mas fiquei horrorizada ao ver o jovem de bicicleta chegar até o guarda e começar uma animada conversa com ele, lançando-me um olhar zombeteiro quando me aproximei. Era como no café – mas ele provavelmente tinha outra intenção além de agressões verbais.
Dei uma volta até a rua principal, planejando voltar ao guarda, mas o homem de bicicleta estava atrás de mim, bloqueando minha passagem, e o guarda desapareceu numa travessa.
O carro de polícia apareceu como por um milagre. Meu perseguidor foi embora imediatamente. O policial parou, eu lhe contei que estava sendo perseguida e ele me levou para casa. Desastre evitado.

A Camuflagem do Agressor Social
Os dois incidentes exemplificam uma técnica abusiva de “Não é que sou um sujeito maravilhoso”, cujo propósito é criar uma camuflagem social protetora para o agressor.
É muito simples: o agressor visa a vítima e, antes do golpe, todos que circundam a futura vítima que poderiam intervir ou exercer algum poder social contra o agressor são submetidos a um show de encanto e graça. (Bajulando e manipulando indivíduos para que se tornem agressores por tabela é uma assustadora variante comum nesse esquema.) Uma vez que a audiência foi hipnotizada por este subterfúgio social para ver o agressor a uma luz favorável e depois racionalizar – ou desacreditar o relato – qualquer conduta abusadora que possa acontecer em seguida, o agressor pode então atacar com relativa impunidade porque, afinal, “Eu sou um grande sujeito!” (Ou uma!)
Como exemplo de magnitude maior, imagine um predador criando uma imagem socialmente bem fundamentada na arena social ampliada onde ele ou ela caça, e você poderia estar inventando alguém como John Wayne Gacy em seu traje de palhaço ou Ted Bundy (famoso seria killer americano) como voluntário num atendimento telefônico de prevenção ao suicídio.
Eis outro cenário do meu passado, cujas implicações eu gostaria que você ponderasse:
Chegou a época, no seminário do último ano de psicologia, de nos apresentarmos uns aos outros, e os estudantes sentados nervosos aguardavam sua vez de falar. Um dos últimos a falar, um sujeito sorridente de cabelo escuro com uma aura de eletricidade, se colocou na frente da audiência. Decididamente ele não estava nervoso.
Contou que, sozinho, estava projetando e construindo sua própria casa e muitas outras, e ao mesmo tempo cuidando de múltiplos negócios e administrando muitos empreiteiros, e ele tocava seis instrumentos musicais e viajava pelo mundo enquanto trabalhava para obter seu diploma de psicólogo porque ele queria ajudar as pessoas. (Ele engasgou um pouco nesse momento.)
Era um implacável fluxo de “eu, eu, eu, eu, eu, eu, eu, eu, EU.”
Olhei em volta enquanto ele desfiava seus pequenos feitos e percebi que muitas mulheres e até alguns homens – pessoas de 20 a 50 anos de idade – estavam todos encantados. Deslizei meu olhar para o professor que estava quieto ouvindo, com um leve sorriso no rosto e uma expressão nos olhos que eu não consegui distinguir de onde eu estava.
Em seguida, seu finale: ele cantou – aplaudido entusiasticamente.
Eu não aplaudi. Se eles admitissem esse floco no programa de psicólogos, pensei, vou renunciar ao meu diploma.
Agora, pense comigo. Suas exageradas afirmações e a apresentação geral exibiam grandiosidade e foco em si mesmo no mínimo, e nenhuma dessas qualidades é ideal para um terapeuta. A parte assustadora dessa história é que muitos membros da audiência que assistiram a essa apresentação – pessoas que aspiravam a carreiras de aconselhadores e psicólogos – de fato compraram isso, a julgar pelos elogiosos comentários que ouvi enquanto saía da sala no final da aula.
Com esse efeito em muitos membros da audiência em mente, imagine o que acontece quando alguém assim mantém o ato circense em cartaz a ponto de sobreviver a um processo de experiência clínica supervisionada a caminho de uma licença de psicólogo clínico. (Isso acontece!) Um cliente vulnerável, hipnotizado por uma persona extensivamente fabricada que foi validado por um diploma, no mínimo seria manipulado para preencher o desejo do terapeuta com distúrbio de dominação e adulação e pior, estar totalmente exposto para formas mais graves de violação.

O Incidente do Café – um Caso de Estupro Psicológico
Não digo com tudo isso que alguém com uma imagem social atraente ou uma auto-apresentação confiante esteja necessariamente desviando a atenção de atividades nefastas. Digo apenas que a imagem social ou os relatos sobre si mesmo de um indivíduo não lhe diz quem, ou o que, ele ou ela realmente é. É o estilo e o contexto do envolvimento de alguém com você – é o padrão – que fornece dicas de suas intenções. Nos casos envolvendo a mulher no café e eu, aconteceu o charme prévio antes do incidente, ou pelo menos a tentativa, a fim de isolar um alvo e criar a ilusão de negação.
E quanto à agressão verbal no café: foi um caso de estupro psicológico, em plena luz do dia, às claras, embora o perpetrador não tenha encostado a mão nela. Mas então, ele nem precisou.

A VIOLÊNCIA INVISÍVEL


É invisível não porque as pessoas não têm olhos, mas porque não conseguem ver, ou não querem ver.
Muitas vezes não existe foto do abuso, corpo de delito, provas, pois como se pode fotografar abuso psicológico?
Os sinais estão todos aí, explícitos, as crianças estão sofrendo, a vítima está sofrendo, mas como o agressor se apresenta como um homem de bem, com charme e amabilidade, com desenvoltura, com ar tranquilo, ninguém consegue ver a violência e a crueldade que ele pratica na intimidade.
Então as vítimas são retraumatizadas pelo nosso sistema judiciário cego, pelos profissionais de saúde ignorantes dessa realidade, pela família e pelos amigos que acabam culpando a própria vítima de ter caído na armadilha, numa atitude típica de quem não quer olhar para si mesmo, preferindo mandar o bode expiatório para o deserto pagar pelos pecados de todos.
É uma realidade tão absurda que de fato é extremamente difícil conceber e muito mais de aceitar. Parece fantasia alucinatória inventada pela vítima. Assim é porque o manipulador convence a todos, com sua lábia e sua tranquilidade de que o culpado é o outro, ou seja, a vítima. Assim é também porque a vítima de fato parece ter perdido a razão. Mas ninguém vê PORQUE ELA PARECE LOUCA!
A vítima tem todos os sinais de trauma, chora, se desespera, tenta contar aos outros o que de fato aconteceu e ninguém acredita, está com a saúde abalada, sem dinheiro e sem capacidade de se reerguer. A vítima sofreu abuso psicológico, emocional, relacional, profissional, econômico e foi afastada de todo o sistema de apoio que poderia ter.
Enquanto em público, o abusador faz papel de marido exemplar, de pai amoroso, querendo transmitir a imagem de família perfeita. Na intimidade, alterna as máscaras: uma hora é médico, outra, monstro. E a vítima nunca sabe quem vai aparecer dessa vez, ficando em estado de alerta constante, adrenalina circulando doidamente pelo corpo, tirando o sono, a capacidade de funcionar e de pensar direito. A vítima é submetida a tortura psicológica que a leva a duvidar de si mesma, de sua própria sanidade, e ela acaba dando razão em tudo ao abusador. Na tentativa de minimizar o inferno no qual se transformou sua vida, acaba dando tudo para o abusador: seu tempo, sua atenção constante, seus bens, o controle sobre sua própria vida. A vítima passa a orbitar ao redor do abusador, sua vida não tem mais outro sentido a não ser esse.
A vítima entra num estado de zumbi. Ela nem se reconhece mais, muito menos os outros a reconhecem. Está gasta, feia, louca. Uma megera. Pensa em acabar com a própria vida, pois qualquer alternativa parece melhor do que o inferno que está vivendo. É um perfeito motivo para o abusador olhar comiserado para sua ex, ou quase ex, e justificar o seu afastamento e sua busca de consolo e afeto nos braços de outra (substituta que ele já estava sondando antes desta fase de destruição da vítima atual, pois ele jamais fica sem alguém para vampirizar).
Esse distúrbio de personalidade tem sido estudado e diagnosticado há vários anos, entre os estudiosos mais profundos Robert Hare, que publicou o livro: Sem consciência, o mundo perturbador dos psicopatas que vivem entre nós, e Serpentes de terno.
Há muito mais psicopatas no meio de nós do que nas prisões. Uma pequena parte chega a cometer crimes hediondos com as próprias mãos. Os outros estão nas famílias, nas empresas, nas instituições, nas profissões, camuflados sempre para poderem agir de acordo com sua natureza de vampiro e de torturador que tem prazer em torturar. A manifestação depende do grau de sutileza que o psicopata atinge, de acordo com sua cultura, sua educação e seu ambiente.
Existe um diagnóstico infalível que é dado por meio do Petscan, que é a imagem do cérebro em funcionamento. No psicopata, a região orbito-frontal, logo atrás dos olhos, se apresenta azul, o que significa falta de atividade. Em pessoas normais, essa região se apresenta de amarelada a vermelha. Ela é responsável por processar sentimentos nobres humanos como solidariedade, respeito, responsabilidade, compaixão, empatia, afeto, amor.
Então, como é que essa criatura que se apresenta em público como amorosa, preocupada com os filhos, a “esposa”, passa indetectada perante os olhos dos outros?
ESSA CRIATURA FINGE.
O psicopata tece uma trama extensa e bem articulada de mentiras. Convence a todos da veracidade desses fatos que fazem parte, portanto, de uma obra de ficção que ele vai construindo ao longo de sua vida.
E você que acreditou nele, caiu na trama, fazendo-o se regozijar ocultamente com o sucesso de sua manipulação.
A violência é invisível. Nem você percebe que foi violentado no seu senso de verdade e de justiça.