Descreve-se o donjuanismo como uma personalidade
que necessita seduzir o tempo todo, que aparentemente se enamora da pessoa
difícil mas, uma vez conquistada, a abandona.
As pessoas com esse traço não conseguem ficar apegados a uma
pessoa determinada, partindo logo em busca de novas conquistas. As pessoas com
essas características são os anarquistas do amor (Sapetti), tornando válidos
quaisquer meios para conquistar, entretanto, os sentimentos da outra pessoa não
são levados em conta. Aliás, Foucault enfatiza essa questão ao dizer que Don
Juan arrebenta com as duas grandes regras da civilização ocidental, a lei da
aliança e a lei do desejo fiel.
Em psiquiatria clínica, entretanto, a despeito do aspecto contestador que
Foucault quer ver nessa atitude, o desprezo para com o sentimento alheio pode
ser critérios para o diagnóstico de Sociopatia ou Personalidade Anti-Social.
Para o donjuan só interessa o instante do prazer e o triunfo
sobre sua conquista, principalmente quando a presa de seu interesse tem uma
situação civil proibida (casada, freira, irmã ou filha de amigo, etc).
Normalmente essas pessoas ignoram a decência e a virtude moral mas seu papel
social tenta mostrar o contrário; são eminentemente sedutores.
O aspecto de desafio mobiliza o donjuan, fazendo com que a conquista amorosa
tenha ares de esporte e competição, muitas vezes convidando amigos para apostas
sobre sua competência em conquistar essa ou aquela mulher. Não é raros que
esses conquistadores tragam listas e relações das mulheres conquistadas, tal
como um troféu de caça.
Por outro lado, segundo Kaplan, deve haver significativos sentimentos
homossexuais latentes desses indivíduos. Esse autor considera que, levando
para a cama a mulher de outro, o donjuan estaria inconscientemente se
relacionando com o marido, motivo maior de seu prazer. Tanto que é maior o
prazer quanto mais expressivo é o marido ou namorado traído.
O narcisismo (traço feminóide) dessas pessoas é uma das características
mais marcantes, ao ponto delas amarem muito mais a si mesmas que a qualquer
outra pessoa conquistada.
Nos casos mais sérios a inclinação à sedução pode adquirir caráter de
verdadeira compulsão, tal como acontece no jogo patológico. De certa forma, a
conquista compulsiva do Donjuan serve-lhe para melhorar sua sensação de
segurança e auto-estima, entretanto, uma vez possuído o que desejava, já não o
deseja mais.
Em alguns casos o Donjuan começa a se desestimular com a conquista, quando
percebe que a mulher conquistada já está apaixonada por ele, ou ainda, pode nem
haver necessidade do ato sexual a partir do momento em que ele percebe que a
mulher aceita e deseja o sexo com ele.
Não será totalmente lícito dizer, como dizem alguns, que o Donjuan se diverte
com o sofrimento alheio. Na realidade parece mais que seja insensível ao
sentimento alheio do que tenha prazer com ele. De fato, parece que eles não
experimentam com o amor o mesmo tipo de sentimento que as demais pessoas. O
amor neles é um sentimento fugaz, passageiro e que, continuadamente, tem o
objeto alvo renovado.
Apesar dessa compulsão à sedução, isso não significa que a pessoa portadora de
donjuanismo seja, obrigatoriamente, mais viril ou mais ativo sexualmente.
A contínua sedução do donjuan nem sempre se dá às custas de um eventual
desempenho sexual excepcional mas sim, devido à habilidade em oferecer sempre
às mulheres tudo aquilo que elas mais estão querendo. Nesse sentido, todos eles
são sempre muito inconstantes, desempenham papeis sociais sempre teatrais e
exclusivamente dirigidos à satisfação de suas conquistas, por isso fazem sempre
o tipo "príncipe encantado", tão cultuado pelo público feminino. Eles
têm habilidade em perceber rapidamente os gostos e franquezas de suas vítimas
e, são igualmente rápidos em atender as mais diversas expectativas.
Há quem considere como uma das características fundamentais da personalidade do
donjuan uma acentuada imaturidade afetiva
Mas, em psiquiatria ou na medicina geral, ser não-normal não significa,
obrigatoriamente, ser doente. Para ser objeto de atenção médica é necessário
que essa não-normalidade implique num aspecto de morbidez, ou seja, implica na
necessidade de sofrimento da pessoa ou de terceiros. Então, o donjuanismo
poderá ser objeto de atenção médica na medida em que produz sofrimento.
Dentre os quadros classificados no DSM.IV e na CID.10, alguns critérios
encontrados no Donjuan podem também ser encontrados no Transtorno Dissocial da
Personalidade, da CID.10, ou em seu correspondente no DSM.IV, Transtorno
Anti-social da Personalidade.
Entre os critérios do DSM.IV para o Transtorno Anti-social da Personalidade
temos os seguintes:Critérios para 301.7
Transtorno da Personalidade Anti-Social
A. Um padrão invasivo de desrespeito e violação dos direitos dos outros, que
ocorre desde os 15 anos, como indicado por pelo menos três dos seguintes critérios:
(1) fracasso
em conformar-se às normas sociais com relação a comportamentos legais, indicado
pela execução repetida de atos que constituem motivo de detenção
(2) propensão para enganar, indicada por mentir
repetidamente, usar nomes falsos ou ludibriar os outros para obter vantagens
pessoais ou prazer
(3) impulsividade ou fracasso em fazer planos para o futuro
(4) irritabilidade e agressividade, indicadas por repetidas
lutas corporais ou agressões físicas
(5) desrespeito irresponsável pela segurança própria ou
alheia
(6) irresponsabilidade consistente, indicada por um repetido
fracasso em manter um comportamento laboral consistente ou honrar obrigações
financeiras
(7) ausência de remorso, indicada por indiferença ou
racionalização por ter ferido, maltratado ou roubado outra pessoa.
Conclusões
A impressão (falsa) que se tem sobre o donjuan é que, assim como é bem sucedido
nas conquistas amorosas, também deve sê-lo em relação aos demais aspectos de
sua vida.
Entretanto, apesar dessas pessoas dominarem muito bem a arte da conquista do
sexo oposto, elas não costumam ter a mesma habilidade em outras áreas da
atividade humana; ocupacional, empresarial, estudantil ou mesmo familiar.
A trajetória de sua vida nem sempre resulta num final satisfatório. Normalmente
as pessoas com esse perfil de personalidade acabam por não se fixarem com
nenhuma companhia mais seriamente, não constituem família e acabam se
aborrecendo quando constatam que não têm mais facilidade para conquistar
mocinhas de 20 anos quando já estão na casa dos 60.
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