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segunda-feira, 9 de março de 2020

O PSICOPATA NA VIDA PRIVADA - UM HISTÓRICO DE VIOLÊNCIA

Marcus Vinicius Gomes. ACADÊMICO DE DIREITO DA UNINTER / BACHAREL EM JORNALISMO NA USJT
Quem quer que combata monstros deverá ter cuidado para que, durante tal processo, não se torne ele próprio um monstro. Quando se olha para um abismo, esse abismo também olha para você. (Nietzsche)
O estofador de carros Ângelo Buono, que juntamente com o primo e parceiro Kenneth Bianchi[1], estrangulou dez mulheres no fim dos anos 70, em Los Angeles (EUA), brutalizava a esposa com quem era casado havia muito anos. Buono costumava amarrá-la na cama, prendendo-a pelos tornozelos e pulsos, antes de fazer sexo. Ele tinha oito filhos, alguns com ex-namoradas, não era uma pessoa inteligente – frequentara a escola regular, mas não aprendera a ler ou escrever – e, aos 44 anos, ostentava, com orgulho, o apelido de “garanhão italiano”. Sedutor, sádico e de libido exacerbada, ele levava para a cama até mesmo as namoradas de seus filhos.
A violência doméstica está associada à psicopatia em um cenário devastador. Em um estudo realizado em 1992, o psicólogo Robert Hare[2] detectou que 25% dos homens que participavam voluntariamente ou por ordem judicial de um programa de tratamento para agressores de esposas eram psicopatas. Eles foram identificados como portadores de Transtorno de Personalidade Antissocial (TPA), após submeterem-se ao Psycopathy Checklist Revised (PCL-R), o teste desenvolvido por Hare, capaz de diagnosticar a psicopatia em indivíduos. Discutiremos o teste mais adiante.
[1] Documentários do canal “Investigação Discovery” disponíveis no YouTube: 
https://www.youtube.com/watch?v=hk9Z4FTkrtw acesso em 12 de novembro de 2018 e 
https://www.youtube.com/watch?v=8jX2MAsU5Mc acesso em 12 de novembro de 2018.
[2] HARE, Robert D. Sem Consciência. O mundo perturbador dos psicopatas que vivem entre nós. Tradução de Denise Regina de Sales. Porto Alegre; Artmed, 2013 (p. 105).
Com 388.286 casos de violência doméstica[1] e familiar registrados em 2017 no Brasil, é possível inferir, com base no teste PCL-R, que aproximadamente 97 mil agressores teriam alguma espécie de psicopatia. Hare previne que as causas e a dinâmica da violência doméstica (de mulheres, principalmente, mas de filhos e parentes também), recorrentes em todo o mundo, são complexas e envolvem um sem-número de fatores econômicos sociais e psicológicos, “mas há certas evidências de que os psicopatas constituem uma proporção significativa desses espancadores reincidentes”.[2]
A subnotificação de casos de violência doméstica, no caso brasileiro, reforça o argumento de que se o porcentual tende a ser o mesmo quando se trata de identificar o percentual de psicopatas em um universo de agressores domésticos, em termos quantitativos (numéricos), a violência pode resultar assustadoramente maior.
Em entrevista à Agência Brasil[3], em 2016, a promotora de Justiça de São Paulo, Silvia Chakian de Toledo Santos, que então coordenava o Grupo de Atuação Especial de Enfrentamento à Violência do Ministério Público de São Paulo, afirma que a subnotificação principia quando a denúncia é recebida pelos agentes do setor público. “Todos nós prejulgamos essas mulheres com base na nossa formação, nos estereótipos de gênero. Elas são questionadas e lhes é exigida uma coerência [na narrativa]”.
Há outros componentes detectáveis: 1) Da vítima em relação ao agente público: ela tem vergonha de expor a intimidade do casal e teme que, caso formalize a denúncia, o marido ou companheiro venha a ser preso ou processado. 2) Da vítima em relação ao agressor: ela é dependente financeira do parceiro, não sabe a quem recorrer para abrigar a ela e aos filhos, sente-se responsável pela manutenção da família e guarda sempre a esperança de que ele vá mudar. 3) Do agente público em relação à vítima: “a mulher nunca
[1] O GLOBO, 12 de março de 2018. 
https://oglobo.globo.com/sociedade/uma-cada-100-mulheres-vai-justiça-contra-violencia-domestica-no-brasil-diz-cnj-22479426 (acesso em 17 de novembro de 2018).
[2] HARE. Op. cit. (p. 105)
[3] AGÊNCIA BRASIL, 29 de abril de 2016. 
http://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2016-04/casos-de-violencia-contra-mulher-ainda-são-subnotificados-diz (acesso em 17 de novembro de 2018).
chega com sangue nos olhos, mas chorando”, afirma a promotora. Há uma mistura de sentimentos. Ela ainda tem carinho pelo homem (que pode ser o pai de seus filhos) e sente culpa. E tudo o que um psicopata não sente é exatamente a culpa.
O “Panorama da Violência contra as Mulheres no Brasil”[1], relatório organizado pelo Senado Federal e divulgado em 2018, admite que a subnotificação de agressões contra a mulher é um desafio a ser superado. A violência doméstica, em particular, “registra um quadro de grande disparidade entre os sistemas judiciários estaduais, na aplicação dos dispositivos da Lei Maria da Penha. Disparidade que parece indicar que, a despeito das leis que regem os processos relativos à violência doméstica serem nacionais, cada estado as executa de forma diversa, alcançando diferentes resultados”.[2]
Ainda que estudos de caso reforcem a ideia de que o psicopata, quando violento, agressivo e de “libido exacerbada”, repetindo a expressão usada para definir o serial killer Angelo Buono, tenda a poupar familiares[3] – o que definitivamente não foi o caso de Buono –, ele certamente tem menor propensão a poupar a mulher com quem vive. Esta, por sua vez, mesmo agredida, acaba por adotar um comportamento chamado de “lua de mel”. Mesmo que a escalada de violência tenha sido precedida de estágios de ofensas verbais e, por fim, de agressão física e/ou sexual, a mulher escolhe poupar o marido, o companheiro, o pai de seus filhos, de um processo ou do encarceramento. Diz Robert Hare no livro “Sem Consciência – O Mundo Perturbador dos Psicopatas Que Vivem Entre Nós”:
“Não há dúvidas de que os psicopatas prejudicam os próprios programas [de tratamento; isso porque o comportamento deles é notoriamente resistente a mudanças]. Mas essa ainda não é a pior consequência do encaminhamento de psicopatas a esse tipo de terapia. O pior é a falsa sensação de segurança que a situação pode gerar na mulher agredida. ‘Ele está fazendo um tratamento. Agora vai melhorar’”.[4]
Há também a dificuldade em enxergar no psicopata uma pessoa violenta. Ele definitivamente não atende o perfil. Aliás, inspira normalidade, confiança e simpatia.
[1] Panorama da violência contra as mulheres no Brasil [recurso eletrônico]: indicadores nacionais e estaduais. – N. 1 (2016). Brasília : Senado Federal, Observatório da Mulher Contra a Violência, N. 2 (2018).
[2] Ibidem.
[3] Note que Buono agredia a mulher, mas não seus filhos. Pelo contrário. Conforme documentário citado, Buono saía com seus filhos durante a noite para dar “carteiradas” em prostitutas que encontrasse pelo caminho, certamente obrigando-as a prestar serviços antes de serem liberadas.
[4] HARE, Op. cit. (p. 106)
Sem o diagnóstico, portanto, o agressor se diferencia dos autores de crimes comuns, o que faz com que a autoridade policial deixe de lado a narrativa da vítima, ela mesma disposta a não implicar o companheiro.
“Ele geralmente é trabalhador, frequenta a igreja, é visto como um bom cidadão. Por isso, muitas vezes, essas mulheres se sentem desacreditadas no processo. Nesses casos, ainda é preciso conscientizar o homem de que o seu comportamento é ilícito. ‘Eles acham que não fizeram nada de errado’”, diz a promotora Silvia Chakian de Toledo Santos.[1]
Os cenários apresentados neste estudo não são diferentes em qualquer parte do mundo. A psicopatia não está limitada a fronteiras ou concentrada em países de maior ou menor índice de desenvolvimento humano. Parte-se de um microcosmo para definir um macrocosmo que está presente em toda a sociedade, da mesma forma que a esquizofrenia, a psicose e outras doenças mentais que, frise-se, não guardam relação com a psicopatia. Como veremos.
Richard Gelles, citado em dissertação de mestrado da psicóloga forense Ana Carolina Fiúza Pesca de Sousa Martins (Lisboa, 2013)[2], adverte sobre esse diagnóstico errôneo:
“Um mito muito premente é a associação entre violência doméstica e a perturbação mental. Por vezes, a única forma de acreditarmos nos crimes horrendos que se cometem dentro do lar passa pela crença de que foram perpetrados por pessoas ‘doentes’. Contudo, menos de 10% destes casos são causados por doença mental ou perturbação psiquiátrica”.

[1] “Ao procurar a autoridade policial para registro da ocorrência da agressão sofrida, a ofendida busca a intervenção do Estado para cessar a violência a que está submetida. Tal propósito pode ser alcançado, em última instância, pela condenação do agressor, ou, de forma mais imediata, e por vezes temporária, pela concessão de medidas protetivas de urgência. O caminho necessário à condenação do agressor geralmente é longo. Após a conclusão do inquérito policial, a partir dos resultados das investigações realizadas para elucidar o fato narrado pela denunciante, a autoridade policial decide sobre o indiciamento, ou não, do autor da agressão. O inquérito policial então é encaminhado ao Poder Judiciário, onde poderá ensejar, nos casos de promoção da denúncia pelo Ministério Público, a instauração de um processo de conhecimento criminal” (Panorama da violência contra as mulheres no Brasil: indicadores nacionais e estaduais nº 2, Senado Federal, 2018, p. 24).
[2] MARTINS. Ana Carolina Fiúsa Pesca de Sousa. Violência conjugal: a psicopatia numa amostra de agressores conjugais encarcerados. Lisboa; Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, 2013.
Em “Sem Consciência” Hare também aborda o tema:
“...a prevalência da psicopatia em nossa sociedade é quase a mesma da esquizofrenia, trans­ torno mental devastador, que causa ao paciente e também à sua família um sofrimento de cortar o coração. No entanto, a dimensão da dor e do sofrimento pessoal associado à esquizofrenia é pequeno se comparada com o extenso massacre pessoal, social e econômico provocado pelos psicopatas. Eles lançam uma grande rede, e praticamente todo mundo cai nela em algum momento.”[1]
Sobre outra crença recorrente, Gelles argumenta que a psicopatia não es­tá de modo algum confinada a famílias disfuncionais, desfavorecidas socioecono-micamente e provenientes de minorias étnicas.
Martins[2] salienta que a Associação de Mulheres Contra a Violência (AMCV), já apontava em estatísticas, nos anos 90, a violência praticada ao longo da vida de uma em três mulheres europeias. Mulheres brancas, nascidas no continente e socioeconomicamente favorecidas.
[1] HARE, Op. cit.
[2] MARTINS. Op. cit.
O que é psicopatia?
“O psicopata faz o que deseja, sem que isso passe por um filtro emocional. É como o gato, que não pensa no que o rato sente – se o rato tem família, se vai sofrer. Ele só pensa em comida. Gatos e ratos nunca vão entender um ao outro. A vantagem do rato sobre as vítimas do psicopata é que ele sempre sabe quem é o gato.” (Robert Hare, Revista Veja: Páginas amarelas, 1º de abril de 2009)
O psiquiatra francês Philippe Pinel, foi um dos primeiros médicos a escrever sobre psicopatia no começo do século XIX. Ele usou o termo “mania sem delírio” para descrever pacientes com absoluta falta de empatia, remorso, emoção ou consciência. Essa condição, para ele, era moralmente neutra, mas outros escritores discordaram. Tratava-se de pacientes “moralmente insanos”, uma verdadeira personificação da crueldade. A discussão se estendeu por gerações e oscilou entre definir o psicopata como “louco” ou como “mal”, especialmente diabólico.
No livro A treatise on insanity (1806, p. 156), Pinel explica o que define como “mania sem delírio”: “[O delírio] pode ser contínuo ou intermitente. Sem alterações ao nível das funções da compreensão, mas perversão nas faculdades ativas, marcadas por uma fúria abstrata e sanguinária, com uma propensão cega para atos violentos”.
Na obra The Mask of Sanity, publicada pela primeira vez em 1941, Hervey Cleckley “implorou atenção”, como assinala Hare, para o que reconhecia como um problema social urgente, mas ignorado. “Ele escreveu de modo dramático sobre seus pacientes e forneceu ao público em geral uma visão detalhada da psicopatia”.[1]
[1] HARE. Op. cit. (p. 42).
Eis as 16 características que Cleckley considerou representarem o psicopata: a) charme superficial e “boa inteligência”; b) ausência de ilusões e outros sinais de pensamentos irracionais; c) ausência de ansiedade e manifestações neuróticas; d) não ser digno de confiança; e) não ser sincero; f) ausência de remorso e vergonha; g) comportamentos antissociais inadequadamente motivados; h) julgamento pobre e incapacidade em aprender com a experiência; i) egocentrismo patológico e incapacidade para amar; j) pobreza geral nas principais reações afetivas; k) perda específica de intuição (insight); l) incapacidade de resposta na maioria das relações interpessoais; m) comportamento não solicitado e fantasioso, por vezes sem a ingestão de bebidas alcoólicas; n) ameaças de suicídio raramente cumpridas; o) vida sexual impessoal, trivial e pouco integrada; e p) incapacidade em seguir qualquer plano de vida.
O próprio Hare, que estudou a personalidade psicopata por mais de quatro décadas, definiu-a como um conjunto de traços e comportamentos interpessoais, afetivos, de estilo de vida e antissociais.
“[No que diz respeito ao comportamento interpessoal] os psicopatas são grandiosos, falaciosos dominantes, superficiais e manipuladores. Afetivamente são fúteis, incapazes de criar fortes laços emocionais com os outros e falta-lhes empatia, culpa ou remorso. As características inter­pes­ soais e afetivas estão fundamentalmente ligadas a um estilo de vida socialmente desviante (não necessariamente criminal), que inclui comportamento irresponsável e impulsivo, e uma tendência para ignorar ou violar convenções morais e costumes.”
Hare sempre foi avesso ao termo “sociopata” que começou a ser utilizado a partir de 1952 por escritores, pesquisadores e médicos para evitar, aparentemente, que a psicopatia fosse confundida com doenças mentais como a psicose ou a insanidade. Médicos, pesquisadores e a maioria dos sociólogos preferem o termo “sociopatia”, afirma Hare, porque acreditam que “a síndrome é forjada inteiramente por forças sociais e experiências do início da vida”. De outro modo, aqueles que consideram que fatores psicológicos, biológicos e genéticos também contribuem

[1] HARE, R. D. & NEUMANN, S. D. (2010). Psychopathy: assessment and forensic implications. In L.Malatesti & J. McMillan (Coord.). Responsibility and Psychopathy: interfacing law, psychiatry and philosophy. (1ª Ed., pp. 93-123). Nova Iorque: Oxford University Press.
para o desenvolvimento da síndrome utilizam o termo “psicopata”, o que inclui ele próprio.
Em estudo mais recente (2006), Hare reclamou, juntamente com Babiak[1], a necessidade de caracterizar a “sociopatia” por padrões de comportamentos e atitudes vistas como normais ou necessárias pelo ambiente cultural ou pela subcultura em que o indivíduo se insere, mas que são considerados como criminais e antissociais pela sociedade no geral. Os indivíduos podem desenvolver uma capacidade normal de empatia, lealdade e culpa, mas o seu sentido de certo e errado é induzido através das regras e expectativas do seu grupo ou subcultura, ou seja, no seu meio são vistos como pessoas “sãs”, não como alguém com uma perturbação. Assim, os autores concluíram que muitos criminosos são sociopatas e que a sociopatia não é uma condição psiquiátrica formal.[2] Em 2009, em entrevista à Revista Veja[3], Hare voltou a tocar no tema:
“[Na década de 20] entrou em voga o termo sociopata, a sugerir que a patologia do indivíduo era fruto do ambiente – ou seja, das suas condições sociais, econômicas, psicológicas e físicas. Isso incluía o tratamento que ele recebeu dos pais, como foi educado, com que tipo de amigos cresceu, se foi bem alimentado ou se teve problemas de nutrição. Os adeptos dessa corrente defendiam a tese de que bastava injetar dinheiro em programas sociais, dar comida e trabalho às pessoas, para que os problemas psicológicos e criminais se resolvessem. Hoje sabemos que, ainda que vivêssemos uma utopia social, haveria psicopatas”.
A sociopatia parece definir o norte-americano Charles Manson, falecido em novembro de 2017, aos 83 anos.[4] Líder de uma seita que se denominava “Família Manson”, ele comandou o assassinato de sete pessoas, entre elas a atriz Sharon Tate, grávida de oito meses, em 8 de agosto de 1969.
Na primeira temporada de “Mind Hunter” (2017), série do canal de streaming Netflix, ambientada no início da década de 70, Manson é citado duas vezes: primeiro ao ser comparado a um unicórnio – um espécime mitológico e raro a
[1] HARE, R. D. & BABIAK, P. (2006). Snakes in Suits. When psychopaths go to work. Nova Iorque: HarperCollins Publishers.
[2] MARTINS. Op. cit.
[3] HARE, R. D. Revista Veja: páginas amarelas. 1º de abril de 2009.
[4] FOLHA DE S. PAULO, 20 de novembro de 2017. 
https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2017/11/1936718-lider-criminoso-charles-manson-morre-aos-83-anos-nos-estados-unidos.shtml (acesso em 17 de novembro de 2018).
ser estudado (hoje se sabe que não tão raro assim). Depois porque o agente do FBI, ao tentar explicar a policiais as motivações sociopatas de Manson, recorre à infância do criminoso. Mãe drogada e prostituída. Tio cruel e sádico a infringir-lhe castigos severos. Manson seria, assim, um fruto do ambiente.
Hare, no entanto, não parece ter dúvidas de que o líder da seita passaria “com louvor” em sua Psychopatic Checklist Revisede (PCL-R). Patriarca da família de hippies no “Summer Love” californiano que achara refúgio em uma locação abandonada de filmes de faroeste, no deserto, Manson recrutava jovens – principalmente mulheres – usando de muitas das características que o psicólogo lista em sua avaliação: loquacidade, estilo de vida parasitário, mentira patológica, descontrole comportamental, ausência de empatia, promiscuidade sexual, falta de remorso ou culpa, delinquência juvenil, vigarice.

O processo de doutrinação assemelhava-se a uma conquista amorosa. Manson se mostrava, a princípio, solidário e empático, uma pessoa maravilhosa, sedutora, concentrada em ajudar, amar e proteger sua nova seguidora. O passo seguinte consistia em anular-lhe a personalidade, redefinindo-a em outra. Não tardava em se mostrar o líder autoritário, disposto a cometer abusos sexuais e físicos, controlar a alimentação e o sono dos membros da seita, impor castigos corporais às crianças e quando tudo parecia horrível, trazê-los de volta em rituais de consumo de psicotrópicos onde Manson era um participante não-ativo, ou seja, só fingia partilhar das drogas. O temor dos membros era o mesmo de uma mulher vítima da escalada de violência doméstica (verbal, sexual, física). O medo e a ansiedade de não sobreviver fora da família é o mesmo de não sobreviver fora da seita.

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